terça-feira, 2 de maio de 2017

Tomates estraçalhados

Olhei em volta. Procurando pelo abridor de vinho. Pilha de panelas desabava. Numa pia, tomates estraçalhados. Tufo de poeira no chão. Pedaços indefiníveis grudavam, pretos, no meu pé. Procuro atrás da geladeira. Saco plástico, pote vazio, tufos de poeira. Peguei o pote. Esfreguei um pé no outro. Em cima da geladeira, se espalhavam a terra, as rolhas e as plantas que eu dei. Seu olho me encarava. Talvez não. Na outra pia, pilha de louça. Corri os olhos. Ali não estava também. Desistimos. Empurramos a rolha. Com faca suja de creme branco. Por pouco não a usa assim mesmo. Passa água na lâmina, eu esfolo a rolha e você empurra pra dentro. Vinho com pedaços de rolha não tem problema. Mas a sua mão sim, porque vem, bruta, pra cima de mim. Encosta no meu útero dolorido, e ele reage. Sente. Passa sem jeito por dentro meu vestido e encosta meu seio escondido. Meu mamilo reclama. Joga o peso do seu corpo todo sobre meu colo, frágil. Desde criança sempre quis ser forte, igual o Popeye. Conseguiu. Aquela força bruta que me ataca. O beijo é sem língua, agressivo, de cheiro enjoado. E eu sensível demais, época do mês. Fica por cima de mim, eu não aguento o peso. Insisto que não. Fala. Tenta me colocar em cima, mas eu não quero. Não tenho desejo porque mais parece uma luta. Saio, e preciso afirmar que não. Ele me segura firme e insiste rindo. Esgueiro-me pelas beiradas. Saio correndo de fininho.

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