Eu estava sentada num banco de
rua, o calor era intenso e não tinha sombra. Quando eu saí de casa não tinha
tomado banho e colocado meu cabelo pra trás com dois grampos. Na mão eu tinha
uma sacola pesada e nas costas uma mochila. Sentei ali pra esperar uma amiga.
Foi quando uma moça passou e começou a falar comigo. Tirei o fone do ouvido pra
tentar escutá-la melhor. Ela me perguntou se eu estudava por ali, chutou que eu
fazia matemática. Disse que eu era “tão linda”. Parabenizou-me pela minha beleza.
Isso foi hoje, nas semanas que passaram também recebi elogios, e também nos
últimos meses.
Amigas que nunca me disseram isso
antes me dizem agora. Olhares masculinos, esses então... por todos os lados.
Estava acontecendo e eu gostava como uma criança que recebe elogio dos pais e
tem as bochechas beliscadas. Mas depois de hoje, depois do elogio desconhecido,
tão claro, nítido, decidi pensar. Afinal, o que eu tenho agora que não tinha
antes? Não estava melhor vestida, não estava apaixonada. Olhei pra dentro de
mim, só pode ser isso. Busquei nas minhas emoções o que podia estar irradiando
a ponto dos outros verem e, ainda, terem vontade de comunicar. Aconteceu que
nada vi, tampouco senti. Estou vazia. Não sentia nada de ruim, como também nada
de bom. Amor, benevolência, autoestima, carinho? Nada de especial. Se outrora
estive feliz, contente, animada e ninguém me notava, agora que estou tediosamente
cinza todos me notam. Será o vazio atraente? Será que pra nossa aparência se
fazer notar é preciso a esterilidade interna? O vazio de dentro faz a carcaça
brilhar?
Levantei-me do banco. Senti pena
dos outros. Senti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário