sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Praia da Barra, 2015.

Na barraca ao lado, o homem de cabelos brancos recosta numa cadeira à sombra do guarda-sol. Sua rechonchuda esposa senta com as pernas pra cima. Sob suas pernas, o joelho negro de um rapaz que a massageia os pés. O casal não olha para o rapaz e vice-versa.  Os olhares se evitam, e para ela é como se as sensações da massagem viessem da areia  ou do ar. Após os pés, o rapaz negro panha água do mar e rega a grande flor, massageia em seguida seus ombros. Ela ignora-o. Conversa em alto e bom tom com suas amigas da outra barraca, com um extensivo sotaque português, acelerando os erres e se apressando em unir palavras com enfase nos esses. A portuguesa, após receber massagem com certo desdém, cede a cadeira para sua amiga conterranea passar pelo mesmo processo.
O rapaz negro recebe uns trocados e segue massageando brancos.
Estamos em Salvador, 2015, após mais de cem anos da abolição da escravatura em uma cidade com a maior população negra fora da África. Poderia ser uma cena de duzentos ano atrás. E provavelmente foi, nesta mesma areia.

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