O amor talvez não precise ser duro, sólido, recheado de
cristais pontiagudos. O sólido cria rachaduras que se quebram com o tempo. Ao enrijecer,
a parte boa entremeia-se na ruim e tudo se torna um só corpo, sem lacunas. Nada
tão inflexível pode durar muito. O amor não por isso precisa se tornar gás. Feito
ar, pode tornar-se invisível e vai e vem tão depressa como uma respiração em
nossos pulmões. Não se pode volatilizar sentimentos, as relações não precisam
ser tão areadas só para evitar que endureçam. É um tanto injusto dispensar
sensações boas por medo das ruins, deixar que tudo se evapore de uma vez sem
que se possa discriminar o que está vazando.
Isso é negar o amor. Sem precisar de defesas, sem querer ser radical, porque
não liquidificar nossas relações? A fluidez liquida permite contato e interação
de todas as partes, boas e ruins. O líquido se modela ao ambiente, é capaz de
mudar sua forma para completar por inteiro cada espaço vazio. Assim deveriam
ser as relações, fluidas, possíveis de completar nossos pequenos espaços, onde não
conseguimos sentir o gás preencher e onde não há sólido que adentre. Com menos
cobranças e, sobretudo sem leviandade, podemos liquefazer nossas emoções, e
assim completar uns aos outros, mutuamente, livremente. Como fluido, vamos
escorrendo sem freio por cada porta aberta, desviando de obstáculos até que
tudo se inunde. Abrindo nossas portas, permitimos um banho das coisas boas que
os outros podem nos oferecer. Não vai doer, não há pontas rígidas, somente
extremidades curvas de líquido suave acariciando cada espaço pelo qual corre.
Abra-se para ser preenchido pelo fluido dos outros, fluidifique-se para
preencher os espaços vazios que encontrar. Liquefaça-se.
segunda-feira, 2 de junho de 2014
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